Odeio o ar quente que insiste em me abraçar e tocar cada pedacinho de pele que só queria respirar e sentir a brisa. Eu sinto que estou sufocando o tempo todo e que o ar não é suficiente. O suor insiste em molhar o meu cabelo, escorrer por lugares inesperados e me deixar excepcionalmente consciente de cada parte do meu corpo. Principalmente daquelas que eu gosto de esconder no inverno.
Não gosto também das chuvas de verão. Surgem de repente, cheias de raiva e prontas para causar o caos. Mas do cheiro de asfalto molhado eu gosto. E gosto de como, mesmo com toda essa imposição, elas vêm para lavar tudo.
Tem dias que eu até sinto que as chuvas e eu estamos emocionalmente conectadas e elas esbravejam e choram por mim toda a água que eu sozinha não consigo chorar. Às vezes sinto que é um choro coletivo de todas as mulheres maravilhosas com quem eu convivo e que estão em processo de se renovar. Nós não temos medo do nosso reflexo na água. Nós gostamos mesmo é de mergulhar nas poças e nadar um pouco lá dentro para conhecer cada canto de nós mesmas.
Hoje, só hoje, eu não tirei o guarda-chuva da bolsa quando saí do metrô enquanto voltava para casa. Senti cada gota escorrer pelo meu corpo, sem mais conseguir perceber o que era suor e o que era chuva. Por alguns minutos, eu não me importei com o meu cabelo. Por alguns minutos não me importei com a pele exposta. Por alguns minutos eu me deixei molhar e mergulhei no cheiro da chuva. Percebi as folhas voando e o céu piscando. E senti que saí da poça em que eu estava explorando nos últimos tempos.
Mas como eu disse no começo: eu odeio o verão.