Mulherzinhas

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Vamos falar sobre esse livro que levei quase um mês para terminar e que me deixou com muitos sentimentos confusos!

Mulherzinhas (Little Women), é um clássico americano da autora Louisa May Alcott que foi escrito entre 1868 e 1869 e conta da história das irmãs March: Jo, Meg, Amy e Beth, durante a Guerra Civil Americana. O primeiro ponto importante se você estiver a fim de ler esse livro é: tenha atenção na hora de comprar seu exemplar! O livro foi, originalmente, escrito em duas partes e algumas editoras até hoje publicam só a primeira parte da história.

Eu, como editora de livros, particularmente acho que as editoras deveriam ter o cuidado de colocar essa informação na capa ou contracapa para evitar que os desavisados acabem sendo surpreendidos negativamente. E aconteceu comigo! Comprei a edição da L&PM e fiquei bem brava por descobrir isso só no meio da leitura. Infelizmente, a informação não constava na capa, nem na contracapa, nem na ficha catalográfica, nem na página de créditos e nem na apresentação! Então, fui obrigada a comprar outra edição do livro que tivesse a história inteira (porque não encontrei até agora uma edição brasileira só com a segunda parte…).

Em relação a edição do livro, quando fui a livraria queria muito a edição da Penguin porque eles costumam ser bastante cuidadosos com a tradução e produção dos livros e, por se tratar de um livro antigo, é importante que a tradução esteja muito bem feita! No dia, eles não tinham o livro na loja e eu não queria esperar para encomendar e receber depois, então, como a livreira foi muito simpática, me mostrou várias edições e me ofereceu um desconto depois de eu contar toda essa saga, resolvi comprar essa edição da Editora Planeta. Infelizmente eu fiquei um pouco decepcionada porque encontrei vários errinhos bobos durante o livro e alguns trechos confusos e que talvez precisassem de uma preparação de texto um pouco melhor, mas gosto muito dessa borda arredondada e achei que a ilustração com referência ao filme (que está em cartaz!) ficou muito bonita.

Agora, sobre o livro em si! Eu fiquei completamente encantada e apaixonada pela primeira parte da história. Enquanto o pai está na guerra, mãe e filhas precisam seguir com suas vidas e a Sra. March faz um enorme esforço para que as meninas sejam educadas de acordo com os valores morais daquela época e isso inclui muita dedicação ao trabalho de casa e aos estudos. A autora se inspirou em sua própria vida para escrever o livro, e é muito interessante acompanhar de forma tão próxima a vida de mulheres nesse período. Ao contrário do que estamos acostumados a imaginar, todas as meninas e também a mãe, não são submissas, têm uma personalidade bastante forte e muitas convicções sobre o que esperam e querem para a própria vida. E eu aqui tive uma predileção absurda pela personagem Jo que, na primeira parte, é forte, intensa, muito passional e sonha em se tornar uma grande escritora. Ao contrário da suas irmãs que têm sonhos “menos modernos” para a época.

Apesar de ser uma leitura que não flui tão rapidamente por ter muitas descrições (o que é bastante normal para um livro escrito nesse período), eu gostei muito do desenvolvimento das personagens nessa primeira parte e de como as relações são construídas. O que, infelizmente, não posso dizer da segunda parte. Foi decepção atrás de decepção e eu só queria um super poder de leitura veloz para acabar logo com isso. Agora cuidado que lá vem spoiler: sim, eu criei altas expectativas para o amor Jo e Laurie, sim, eu tenho memória de peixinho dourado e apesar de ter assistido a Rachel (Friends) contar o final da história para o Joey umas cinquenta vezes, eu não me lembrava que ele acabava casando com a Amy.

Fora as minhas expectativas frustradas por esse amor que não aconteceu, a única personagem que não me decepcionou na segunda parte foi a Beth que se manteve convicta até o fim da vida. Enquanto Meg tem uma grande importância na primeira parte do livro, ela praticamente desaparece na segunda parte e quando aparece, parece ter perdido toda a sua capacidade de articulação que tinha quando era jovem. Amy, apesar de ter, surpreendentemente, a maior evolução cultural de todas as irmãs, não me convence muito em relação aos valores que deveria ter aprendido com a mãe.

E a minha maior decepção de todas na história é definitivamente a Jo. Por mais que eu tivesse muitas esperanças de ver o amor dela com o Laurie, aceitei a recusa porque fazia algum sentido com as convicções dela enquanto menina. Ela sempre questionou o casamento e essa imposição da sociedade de que as mulheres só esperam a vida toda por um amor e nada mais. O que acontece é que, além de a personagem jogar tudo isso para o alto por um homem bem mais velho que ela, ela também desiste de sua paixão pela escrita.

Não é só que eu não tenha gostado da segunda parte do livro porque elas não corresponderam minhas expectativas, mas também porque o desenvolvimento de todas as personagens e das relações entre elas não parece natural. Fica difícil de acreditar porque senti falta de reflexões pessoais das personagens que me convencessem dessas decisões e rumos tomados.

Independente disso, é um clássico que traz muitos debates, opiniões, séries, filmes e recomendo a leitura justamente por ele permitir muitas interpretações!

Dias de abandono

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Eu ainda não consegui terminar o livro que comecei a ler no final de janeiro, mas estou quase no finalzinho e acho que até a próxima semana consigo voltar para as resenhas mais frescas e de livros lidos recentemente. Enquanto isso, resolvi falar um pouco mais sobre esse livro que é, provavelmente, um dos meus favoritos do ano passado.

Já falei um pouco sobre ele no post sobre o “Laços” (e vale a pena ler para saber um pouco mais sobre o mistério por trás da história da autora), mas acho que ele merece um post todinho dele!

“Senhoras cultas, de boa condição social, quebrando-se feito bibelôs nas mãos de seus homens distraídos. Pareciam-me emocionalmente burras, eu queria ser diferente, queria escrever histórias de mulheres com muitos recursos, mulheres com palavras indestrutíveis, não um manual da esposa abandonada com o amor perdido como o primeiro pensamento da lista”.

“Dias de abandono” é um romance da autora Elena Ferrante que conta a história de Olga, uma mulher que acabou de ser abandonada pelo marido. Sozinha com os dois filhos e o cachorro, a personagem se entrega completamente ao sentimento da traição e demonstra de forma visceral o fundo do poço em que podemos chegar ao confiar nossos sonhos e expectativas nos outros.

Fazia tempo que um livro não me abalava tanto quanto esse em diversos sentidos. Primeiro, a escrita da autora é muito envolvente e a leitura flui rapidamente por cada linha. É desses que eu não consegui largar nem quando estava andando no metrô e acabei trombando nos outros por aí… mas muito mais do que isso é um desses livros que revira o estômago. A dor da personagem é tão grande e tão real que me coloquei no lugar dela por diversas vezes e consegui compreender cada angústia, cada dor no peito, cada raiva, cada questionamento de si e cada pontada de ciúmes. Ela mergulha na loucura e se perde completamente dentro dos próprios sentimentos. Quem já enlouqueceu por ciúmes vai conseguir se relacionar muito bem com a personagem.

Para além disso, é um livro que nos faz refletir sobre a responsabilidade da mulher enquanto suposto pilar da família. Por que é tão mais fácil para os homens abandonarem os próprios filhos sem serem esmagadoramente julgados? Gosto particularmente de uma frase em relação a isso que diz: “Eu tinha cuidado da casa, da comida, dos filhos, eu tinha me ocupado de todas as chatices da sobrevivência do cotidiano, enquanto ele escalava teimosamente o declive da nossa origem sem privilégios.”

Olga é uma das mulheres mais corajosas e fortes que já encontrei em livros. Não é fácil assumir a posição de negligenciar as responsabilidades de ser mãe porque a necessidade der ser uma mulher em sofrimento é maior num determinado momento. Ela opta por se destruir completamente para, só então, conseguir se refazer no novo cenário e é bonito, mas dolorido de assistir o caminho que ela precisa trilhar para descobrir como ser ela mesma de novo, sem ninguém ao lado.

“Não expliquei que queria apagá-lo completamente do corpo, arrancar de mim até seus lados que, por algum tipo de preconceito positivo ou por conivência, nunca fui capaz de enxergar. Não falei que queria retirar-me do refluxo da sua voz, das suas fórmulas verbais, de seus modos, de seu sentimento do mundo. Queria ser eu, se essa fórmula ainda tivesse algum sentido. Ou pelo menos queria ver o que permanecia em mim, uma vez que o houvesse retirado.”

Recomendo muito mesmo!

A gorda

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Um dos meus objetivos quando voltei com o blog era fazer mais resenhas de livros. Além de poder falar sobre um dos meus assuntos favoritos, encontrei também uma forma de me manter regrada nas minhas leituras. O plano inicial era ler um livro por semana, mas o livro que estou lendo agora tem uma linguagem um pouco mais antiga e a leitura acaba sendo um pouco mais lenta. É normal e sei que a velocidade de leitura varia de livro para livro, mas enquanto essa resenha ainda não pode ser escrita, resolvi falar de alguns outros títulos que li recentemente e que mexeram comigo.

Comprei o livro A gorda da autora Isabela Figueiredo na última Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Essa capa e título já tinham me chamado a atenção em alguns outros momentos, mas só dessa vez me convenci a comprar.

Uma das coisas que mais me atraiu no livro, foi um parágrafo da orelha: “Maria Luísa, a protagonista deste romance tão engraçado quanto cruel,  é uma moça inteligente, boa aluna, voluntariosa e dona de uma forte personalidade. Porém, ela é gorda. E inapelavelmente gorda. Essa característica física a incomoda de tal maneira que parece colocar todo o resto em xeque: sua relação com o mundo, sua vida sentimental (a relação complicada com David, seu primeiro amor) e sua atitude diante dos fatos.”

Eu já contei aqui no blog um pouco dos meus problemas de aceitação com o meu próprio corpo e quando bati os olhos nessa frase pensei que ia mergulhar num texto incrível e com milhões de referências em que eu me sentiria abraçada por ter encontrado semelhanças de angústias que vivo constantemente! E não foi bem por aí…

Infelizmente, não consegui me identificar tanto com a personagem quando eu gostaria. Sim, ela é gorda, sim, ela sofre preconceitos e pressões da família e amigos em relação a isso, mas não senti que esse era, de verdade, o problema principal que bloqueava a vida da Maria Luísa. Na verdade, senti durante toda a leitura, que o que empatava realmente a vida dela era um amor mal resolvido. Por levar um título tão forte como “A gorda”, eu esperava ter encontrado mais reflexões pessoais da personagem em relação as inseguranças com o próprio corpo e como isso, de fato, afetava a visão de mundo dela.

Independente das expectativas que eu criei,  a autora tem uma capacidade de escrita bastante impressionante e consegue contar toda a história e pensamentos da personagem em fragmentos não-lineares. Ela flutua na linha cronológica de uma forma muito segura, sem medo de ir e voltar quantas vezes achar necessário e não é todo dia que me deparo com textos tão bem desenvolvidos assim.

É um livro que definitivamente vale a leitura, principalmente pela narrativa! Além disso, a edição da Todavia também está impecável: diagramação gostosa e confortável, e um papel que eu amo de paixão e que deixa o livro bem levinho para quem também gosta de ler no metrô.